O industrial paranaense está menos otimista desde o início do ano, segundo estudo da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) feito em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Pelo terceiro mês seguido, o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) caiu, chegando a 54,4 pontos. São 8,5 pontos abaixo do resultado de fevereiro (62,9). O resultado também ficou um pouco abaixo do registrado em março de 2020 (64,2).
O presidente da Fiep, Carlos Valter Martins Pedro, afirma que a queda acentuada deste mês pode ser reflexo do agravamento da pandemia da Covid-19 em todo o país. O retorno de medidas mais restritivas, que causou a interrupção de alguns ramos de atividade, sugere ao empresário um cenário de incertezas na economia. “A indústria atua de acordo com a demanda. Quando o comércio não vende e segmentos de serviços não compram, automaticamente o ritmo de produção nas indústrias também desacelera”, diz.
Alguns setores como alimentos, produtos de higiene e limpeza e farmacêuticos são exceção. Durante a pandemia, com mais pessoas em casa, o consumo desses produtos até aumentou. Farmácias, supermercados, padarias e estabelecimentos que vendem estes itens mantiveram-se abertos, com poucas limitações no horário de funcionamento. Outros segmentos, porém, encontram mais restrições e já enfrentam queda na demanda e na produção. “Para que tenhamos uma retomada da confiança, é preciso que as autoridades realizem um esforço conjunto para acelerar o ritmo de imunização da população. Ao mesmo tempo, são necessárias novas medidas econômicas para que empresas e cidadãos consigam atravessar esse período desafiador”, completa Carlos Valter.
Para o economista da Fiep, Evânio Felippe, também pode ter influenciado o resultado da pesquisa a expectativa da publicação de novos decretos, sejam municipais ou estaduais, no curto e médio prazo, no intuito de conter a transmissão do coronavírus no estado. Na decomposição do ICEI, tanto o indicador de condições, que analisa a situação das empresas e da economia nos últimos seis meses, quanto o de expectativas, que faz a mesma avaliação no futuro, tiveram redução em março, na comparação com o mês anterior, de 8,4 e 8,7 pontos, respectivamente.
A pesquisa foi realizada nos primeiros dias de março e ainda não é reflexo do fechamento total de algumas atividades e dos lockdowns decretados por alguns municípios paranaenses. Mas serve de alerta para o que pode ser registrado nos próximos levantamentos.
Mesmo diante dessa situação, o economista descarta uma queda acentuada dos indicadores de confiança como aconteceu em abril e maio do ano passado, quando chegaram aos patamares mais baixos da série histórica, 35,4 e 32,2 pontos, respectivamente. Felippe entende que na época havia um receio maior da população e das autoridades com relação aos mecanismos de controle e tratamento da doença. “Apesar do momento atual crítico, já temos referências de como lidar com a situação e muitas lições foram aprendidas. Temos ainda muita expectativa em torno das vacinas e de novas medidas do poder público com relação à continuidade de programas emergenciais. Isso tudo pode contribuir para uma visão mais otimista do empresário do que no passado”, reforça.
Entraves
A ajuda financeira divulgada pelo Governo Federal para socorrer os trabalhadores que estão sem renda por conta da pandemia será menor. No ano passado, os recursos em torno de R$ 292,9 bilhões foram destinados a 68 milhões de trabalhadores. Foram cinco meses de benefícios de R$ 600,00 e quatro meses de R$ 300,00, sendo que em alguns casos como mulheres chefes de família o valor era duplicado. Já este ano, a previsão é que o montante não passe dos R$ 44 bilhões, sendo os valores para pessoa física estabelecidos entre R$ 150 a R$ 375,00. O governo espera atingir 40 milhões de pessoas com a medida.
A escassez de matéria-prima para produção, que desde o ano passado vem impactando a atividade industrial no país, é outro impeditivo para uma avaliação mais positiva. Felippe explica que isso ocorre porque, no início da pandemia, alguns fornecedores pararam de produzir e a demanda ficou represada. Com a retomada rápida do setor, os fabricantes não conseguiram dar conta de tantos pedidos e desde então os produtos ficaram cada vez mais escassos. “Não é só no Brasil, é uma questão mundial. Há uma pressão grande de toda a cadeia industrial pela compra de produtos para produção, o que gerou aumento de custos e prazos mais longos para entrega”, completa.
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